Burnout do Diabetes: rotina de vigilância que a doença exige gera esgotamento emocional

Publicação: 12/11/2025
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Federação Internacional do Diabetes aponta que 3 a cada 4 pessoas com a condição relatam questões de saúde mental

O diabetes é uma doença que impõe uma rotina de vigilância para o paciente. Mas, quando o peso da gestão diária se torna insustentável, o resultado é um estado de esgotamento emocional que leva o paciente a negligenciar o próprio tratamento, com consequências graves para a saúde.

Segundo a Federação Internacional do Diabetes (IDF), no atlas global da doença publicado em 2025, cerca de 16,6 milhões de brasileiros vivem com o diabetes. O Brasil é o sexto país com o maior número de casos.

O fenômeno, que atinge uma parcela significativa de pessoas com diabetes, é mais do que uma frustração passageira: é uma resposta psicológica ao estresse crônico de ter que tomar inúmeras decisões de autocuidado todos os dias, sem descanso. O IDF aponta que três em cada quatro pessoas que convivem com a condição relataram ter vivenciado algum sintoma de ansiedade, depressão ou outras questões de saúde mental relacionadas ao diabetes.

“A diferença entre o estresse comum e o burnout está na exaustão profunda e no abandono do autocuidado. Pacientes relatam sentir-se prisioneiros da doença, com a mente constantemente ocupada por medo de complicações, cálculos de carboidratos e a sensação de fracasso”, explica Aline Sabino, psiquiatra da Rede de Hospitais São Camilo de São Paulo.

O burnout em pacientes diabéticos pode se manifestar de diversas formas. Segundo a especialista, no comportamento, observa-se uma redução drástica na frequência de medição da glicemia, o ato de pular ou alterar doses de insulina, faltar ou adiar consultas e o isolamento social. Também é comum notar um sentimento constante de raiva e revolta pela doença, sensação de incompetência ou fracasso no controle e o desejo de “fingir que o diabetes não existe”. 

“Quando o paciente entra em burnout, ele literalmente se ‘desliga’ da doença. Parar de medir a glicemia ou faltar a consultas é um grito de socorro, uma tentativa subconsciente de tirar ‘férias’ de uma doença que não permite descanso. O perigo é que esse abandono leva ao descontrole glicêmico, abrindo a porta para complicações físicas, como o pé diabético ou a falência renal”, ressalta a psiquiatra.

O papel do cuidado psicológico no tratamento

Na busca de reverter o quadro, o tratamento vai além da mudança de medicamentos. A validação e aceitação ajudam o paciente a reconhecer que o esgotamento é uma resposta normal a uma situação anormalmente estressante. 

“A redefinição de metas de autocuidado, por exemplo, feita em conjunto com o endocrinologista para estabelecer objetivos mais alcançáveis, alivia a pressão pelo ‘perfeccionismo glicêmico’ e é uma das formas de dar espaço para o paciente poder se cuidar com menos nervosismo”, comenta Aline.

Além disso, a psiquiatra explica que as estratégias de enfrentamento incluem técnicas para lidar com o medo da hipoglicemia e a ansiedade ligada à contagem de carboidratos, devolvendo o senso de controle ao paciente.

“Não basta dizer ao paciente para se cuidar. É preciso dar as ferramentas emocionais e cognitivas para que ele possa gerenciar essa rotina. A terapia, nesse contexto, é essencial para a adesão e o sucesso a longo prazo,” reforça a especialista.

O combate ao burnout do diabetes é um passo fundamental para garantir que milhões de brasileiros com a doença possam ter uma vida plena, reduzindo não apenas o sofrimento mental, mas também o avanço das complicações físicas.