Conheça as principais formas de prevenção de doenças do sistema digestivo

Publicação: 07/06/2024

Refluxo gastroesofágico, gastrite, síndrome do intestino irritável e outras doenças podem ter complicações com automedicação ou diagnóstico tardio
 

Estimativas da Organização Mundial da Saúde (OMS) e da Organização Mundial de Gastroenterologia (OMG) apontam que mais de 1 bilhão de pessoas sofrem com sintomas e doenças do sistema digestivo, o que inclui enfermidades como a doença do refluxo gastroesofágico (DRGE), a gastrite, a infecção por Helicobacter pylori (H. pylori), constipação funcional ou prisão de ventre, síndrome do intestino irritável (SII), intolerâncias alimentares, doenças inflamatórias intestinais (DII), doenças hepáticas agudas e crônicas, e cânceres de estômago, intestino, esôfago, colorretal, fígado e pâncreas.

Com mais de 5 milhões de pessoas acometidas em todo o mundo, as DIIs caracterizam-se pela inflamação do trato gastrointestinal, podendo atingir da boca ao ânus. O maior estudo realizado no Brasil sobre essa doença, pela Organização Brasileira de Doença de Crohn e Colite – GEDIIB, mostrou que a prevalência  de DII aumentou de 30,01 por 100 mil habitantes em 2012 para 100,13 por 100 mil habitantes em 2020, o que representa mais de 233% de aumento em um período de oito anos. 

Entre os cânceres, o de cólon e reto é o segundo com maior incidência estimada em ambos os sexos, com quase 22 mil novos casos em homens e mais de 23 mil novos casos em mulheres, no ano de 2023, de acordo com dados do Instituto Nacional do Câncer (INCA). O tumor de estômago é o quarto mais comum entre os homens e o sexto entre as mulheres no Brasil. Já os tumores malignos primários do fígado são o sexto tipo mais comum de neoplasia maligna e a quarta principal causa de morte relacionada ao câncer em todo o mundo.

O aumento em geral desses números aumenta a importância dos alertas feitos no Dia Mundial da Saúde Digestiva, 29 de maio, e que tem neste ano o tema “Sua saúde digestiva: faça disso uma prioridade”. O objetivo da Organização Mundial de Gastroenterologia (OMG) é chamar a atenção para a prevenção, o diagnóstico precoce e o tratamento adequado dessas enfermidades.

“É comum as doenças relacionadas ao sistema digestivo estarem associadas ao estilo de vida. O sedentarismo, estresse, má alimentação, ingestão de bebidas alcoólicas e o tabagismo são fatores de risco. Outro problema é que as pessoas não procuram orientação médica ao se depararem com sintomas,  recorrendo à automedicação ou receitas caseiras, o que pode mascarar o quadro e retardar o diagnóstico, podendo levar a várias complicações”, alerta a gastroenterologista da Rede de Hospitais São Camilo de São Paulo, Dra Perla Schulz.

A especialista listou estratégias fundamentais para ajudar a prevenir as doenças do sistema digestivo:

Alimentação Equilibrada
Uma dieta rica em fibras, frutas e legumes, evitando excessos de carne vermelha, pode ajudar a prevenir doenças do sistema digestivo. É importante evitar alimentos processados e ricos em gordura e açúcar, que podem contribuir para a obesidade, a doença do refluxo gastroesofágico, doença hepática esteatótica associada à disfunção metabólica (MASLD), e o aumento do risco de câncer de esôfago, fígado e cólon. Ainda, o excesso de ingestão de bebidas alcoólicas está fortemente associado ao desenvolvimento de doenças do esôfago, estômago, pâncreas e fígado.

Hidratação Adequada
Beber suficiente água é fundamental para a saúde digestiva. A água ajuda a dissolver nutrientes e a prevenir a formação de pedras nos rins, auxiliando no adequado funcionamento dos intestinos.

Exercício Regular
O exercício regular pode ajudar a melhorar a digestão e a prevenir doenças do sistema digestivo. Além disso, o exercício pode ajudar a controlar o peso e a reduzir o risco de doenças relacionadas à obesidade.

Gerenciamento do Estresse
O estresse crônico pode contribuir para a doença do refluxo gastroesofágico e outras doenças do sistema digestivo, como as doenças funcionais (SII, dispepsia funcional). Praticar técnicas de relaxamento, como meditação e yoga, pode ajudar a gerenciar o estresse e a melhorar a saúde digestiva.

Uso consciente de medicamentos
Qualquer medicamento tem riscos e benefícios, e o médico deve ser consultado para avaliar qual medicação, e por quanto tempo e dose, é o recomendado para cada situação. O uso inadequado de medicamentos para dor, por exemplo, pode causar úlceras gástricas, sangramentos digestivos, prisão de ventre e/ou hepatites medicamentosas. Por outro lado, o uso crônico de medicamentos para sintomas dispépticos, sem adequado seguimento médico, pode levar a várias complicações de saúde, variando desde deficiências nutricionais e aumento no risco de infecções até complicações mais graves, como osteoporose e doença renal crônica.

Exames preventivos
Existem protocolos de recomendação de rastreio de algumas doenças do aparelho digestivo para determinadas populações de risco, como a recomendação de realização periódica de exames laboratoriais e ultrassonografia de abdome para investigação de  MASLD (doença hepática esteatótica associada à disfunção metabólica) em indivíduos com sobrepeso ou obesidade e a de  incluir o rastreio de câncer colorretal,  como exames de rotina de pessoas com mais de 45 anos, ou para quem tem casos desse tipo de câncer na família, iniciar o rastreamento cerca de dez anos antes da idade que o parente em questão tinha quando recebeu o diagnóstico.

Visita Regular ao Médico
É fundamental realizar visitas regulares ao médico para monitorar a saúde digestiva e detectar problemas precocemente. Além disso, o médico pode fornecer orientações personalizadas para prevenir e tratar doenças do sistema digestivo.

Os sintomas de doenças do sistema digestivo podem variar dependendo da condição específica, mas se, rotineiramente, forem notados sintomas como dor abdominal (aguda ou crônica), diarréia, constipação, sangramento do trato digestivo ( vômitos ou fezes com sangue), regurgitação, dificuldade em engolir, inchaço abdominal, gases em excesso, queimação no estômago, náuseas, vômito, mau hálito, emagrecimento sem dieta específica, olhos amarelos, urina escura e/ou fezes esbranquiçadas, são indicativos de problemas no sistema digestivo. “Nesses casos, é preciso buscar ajuda médica. Postergar uma consulta médica e exames pode transformar um problema de saúde com tratamento imediato efetivo em uma complicação como um câncer colorretal no futuro”, adverte a Dra Schulz.

Outro motivo para priorizar o cuidado com a saúde digestiva é ajudar no fortalecimento do sistema imunológico. “Cerca de 80% das células de defesa — responsáveis pelo combate de agentes infecciosos, como vírus e bactérias — vivem no intestino. Se a região é afetada por doenças, a imunidade do indivíduo também se fragiliza, o que pode ser um fator para o surgimento de outras doenças no organismo”, afirma a gastroenterologista ao enfatizar a importância da conscientização no Dia Mundial da Saúde Digestiva.