Os cuidados paliativos promovem a qualidade de vida de pacientes e de seus familiares, diante de doenças que ameaçam a continuidade da vida. Por meio da prevenção e alívio do sofrimento, viabiliza a dignidade e conforto.
Como podemos lidar com o diagnóstico e a dor? Como identificar os sinais que indicam a necessidade de ajuda especializada?
Para essas e outras dúvidas sobre o tema, conversamos com a enfermeira Marisa Cherobim Dias e a psicóloga Ketruim Bueno de Souza, da Rede de Hospitais São Camilo de São Paulo, da Unidade Granja Viana, reconhecida pelo trabalho em Cuidados Paliativos.
Quais os estágios enfrentados pelos pacientes ao se depararem com o diagnóstico de uma doença ameaçadora da vida?
M. e K.: “A maneira como cada paciente lidará com a ideia de finitude é única, cada um construirá uma explicação para seu processo de adoecimento. Nesse sentido, eles transitam entre atribuir significados ao momento atual e experienciar as novas fases que se apresentam com a evolução da doença. Não é possível determinar fases pois, a experiência de adoecer é vivenciada como um pêndulo, ou seja, ele oscila entre a significação da situação e as questões que se apresentam no dia-a-dia e, com o avançar da doença, ele pode regressar ao ponto de início e então, é preciso reconstruir e/ou resgatar os mecanismos e sentidos atribuídos ao longo do processo.”
Como é o processo para o enfrentamento do adoecimento?
M. e K.: “Há uma mescla de temores que se somam. O paciente precisa lidar com as preocupações concretas como dor, agonia sem alívio, dentre outros sintomas. Além disso, é frequente o sentimento de desamparo que se apresenta diante da condição de finitude, o medo do desconhecido perante a morte e as perdas que se apresentam como a perda da saúde, das expectativas, da independência, de seus sonhos e objetivos e de sua própria vida. Há também preocupações associadas à repercussão na dinâmica familiar com a sua partida.
É importante salientar que a angústia de lidar com a finitude não é do paciente com uma doença grave e ameaçadora da vida e sim da pessoa. Portanto, esse processo é individual e singular e cabe a nós, equipe de cuidado com a saúde desse paciente, promover uma escuta atenta para que seja possível entender a maneira como esse indivíduo se organizou para lidar com a sua morte, para que sejam trabalhadas as questões que surgirem ao longo do processo.”
Qual a importância da atuação do psicólogo?
M. e K.: “Quando pensamos em um paciente portador de uma doença que ameaça a vida, devemos considerar que a morte se apresenta de maneira concreta e real, não mais distanciada do seu cotidiano. Diante dessa perspectiva, o paciente tende a se desorganizar perante a transitoriedade da própria vida, gerando muitas vezes sentimentos de medo, inseguranças, humor ansioso, dentre outros.
Nesse sentido, o psicólogo oferecerá uma escuta atenta e reflexiva à medida em que identifica as demandas do paciente para além do aspecto biológico e trabalhará formas particulares para que ele responda aos impasses e angústias vivenciados nesse momento. O que se espera é que, em conjunto com o psicólogo, possam trabalhar suas angústias e medos alcançando possibilidades para o seu sofrimento psíquico.”
Quais os estágios emocionais do luto?
M. e K.: “Há na literatura o conceito de luto mais conhecido descrito pela autora Kubler-Ross que os descreve em 5 fases, sendo elas: Negação, raiva, barganha, depressão e aceitação.
Diante de uma notícia avassaladora a negação se torna um mecanismo que protege o sujeito da realidade até que ele possa lidar com a situação.
Outra reação ressaltada é a raiva, diante da impossibilidade de negar a situação o indivíduo passa a sentir o inconformismo e projeta a raiva em todas as direções e pessoas a sua volta.
Na barganha ele passa a alimentar a esperança de uma cura ou prolongamento da vida diante de méritos e comportamentos que favoreçam esse desejo.
Quando o indivíduo se depara com o cenário em que não é possível negar sua realidade e o sofrimento trazido por ele, sentimentos de fúria e revolta são amenizados pelo reconhecimento do sentimento de perda, podendo ter como consequência a depressão.
A aceitação diz respeito ao momento em que a pessoa aceita sua condição e se permite vivenciá-la, nesse momento o sujeito terá tido a oportunidade de externar todos os seus sentimentos e a aceitar sua condição de finitude.”
Quais os sintomas mais esperados na fase final de vida?
M. e K.: “A fase final de vida é aquela onde os cuidados tornam-se mais intensos e complexos. É um momento, portanto, onde é essencial garantir a continuidade das ações desenvolvidas ao longo do adoecimento, sendo este o momento em que todos os cuidados se voltam para o conforto e dignidade do paciente e seus familiares.
Os sinais e sintomas mais comuns que surgem na fase final de vida são: hipotensão (queda da pressão arterial), oscilação de temperatura, oligo-anúria (diminuição e ausência na produção de urina), alterações da pele, rebaixamento do nível de consciência, alterações do padrão respiratório, extremidades frias, edema (inchaço causado pelo acumulo de líquido), cianose (coloração azulada da pele), dificuldades de comunicação, fadiga (cansaço), dor, anorexia (falta ou perda de apetite), astenia (perda ou diminuição da força física), confusão mental, constipação (dificuldades para evacuar), boca seca, dispneia (falta de ar), náuseas e vômitos, além de alteração do sono/vigília.