O uso excessivo de dispositivos eletrônicos pode prejudicar o desenvolvimento infantil

Publicação: 14/10/2024
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O uso excessivo de dispositivos eletrônicos pode prejudicar o desenvolvimento infantil

Os benefícios das brincadeiras na infância vão além de entretenimento e desempenham papel fundamental no desenvolvimento físico e mental

A infância é um período crucial para o desenvolvimento físico, emocional e cognitivo, e a brincadeira desempenha um papel central nesse processo. No entanto, à medida que a tecnologia ocupa cada vez mais espaço na vida das crianças, elas têm trocado atividades tradicionais de interação e exploração pelo uso excessivo de telas. Essa mudança preocupa especialistas como o Dr. Paulo Scatulin Gerritsen Plaggert, neuropediatra da Rede de Hospitais São Camilo de São Paulo, que alerta sobre os impactos negativos dessa tendência.

“Sabemos que o uso prolongado de dispositivos eletrônicos pode prejudicar o desenvolvimento de habilidades essenciais para as crianças, como a interação social, a resolução de problemas e o controle emocional”, explica o Dr. Plaggert. O neuropediatra enfatiza que o tempo excessivo em frente às telas pode inibir o desenvolvimento de capacidades cognitivas e emocionais fundamentais para a vida adulta.

O impacto das telas no desenvolvimento infantil

O uso da internet entre crianças e adolescentes no Brasil tem aumentado significativamente nos últimos anos. Segundo a Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Contínua (PNAD), divulgada pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), a proporção de pessoas com 10 anos ou mais que utilizam a internet regularmente subiu de 66,1% em 2016 para 88% em 2023. Esse aumento reflete uma maior exposição das crianças às telas, seja por meio de celulares, tablets ou computadores, o que tem elevado as preocupações quanto aos impactos no desenvolvimento infantil.

A Sociedade Brasileira de Pediatria recomenda que crianças menores de 2 anos não sejam expostas a telas e que, para aquelas entre 2 e 5 anos, o tempo de tela seja limitado a no máximo uma hora por dia. Contudo, um estudo norte-americano de 2022 revelou que 75% das crianças com menos de dois anos já estão expostas a dispositivos eletrônicos, e 64% das crianças de dois a cinco anos ultrapassam o tempo recomendado.

Essa exposição precoce e intensa pode comprometer o desenvolvimento de competências cruciais para a vida social e emocional da criança. “O uso excessivo de telas diminui a oportunidade de a criança explorar o mundo ao seu redor, limitando o desenvolvimento da imaginação e da autonomia”, comenta o Dr. Paulo.

A brincadeira como ferramenta de aprendizado

Se, por um lado, o uso excessivo de tecnologia pode limitar o crescimento infantil, por outro, a brincadeira oferece um universo de oportunidades para o desenvolvimento cognitivo, motor e emocional. “Brincar não é apenas uma forma de entretenimento, é uma experiência de aprendizado que promove a construção de habilidades sociais e cognitivas”, ressalta o neuropediatra.

Por meio da brincadeira, as crianças exercitam múltiplas áreas do cérebro, fortalecendo conexões neurais que influenciam diretamente seu desempenho escolar e habilidades emocionais. “O cérebro infantil é cheio de conexões que precisam ser ativadas, e a brincadeira é uma das formas mais eficazes de estimular essas redes neurais”, explica ele. Brinquedos, jogos e atividades sensoriais proporcionam um ambiente enriquecido que pode, literalmente, moldar a estrutura cerebral, favorecendo o desenvolvimento de áreas associadas à criatividade, atenção e memória.

Os neurocientistas também indicam que a brincadeira ativa o córtex cerebral, região responsável pelo processamento cognitivo superior. Dessa forma, crianças que brincam frequentemente tendem a desenvolver melhor suas habilidades de resolução de problemas, pensamento crítico e capacidade de adaptação. “Por meio da brincadeira, a criança simula situações da vida real, o que facilita a aprendizagem e a construção de competências sociais”, destaca o especialista.

O risco da ausência de brincadeiras

A ausência de brincadeiras adequadas pode trazer sérias consequências para o desenvolvimento infantil. Estudos mostram que crianças que não têm oportunidades de brincar ao ar livre ou de interagir socialmente com seus pares podem apresentar maiores dificuldades de atenção, além de um aumento nos níveis de ansiedade e irritabilidade. “Sem a brincadeira, a criança perde uma das principais ferramentas para aprender a gerenciar suas emoções e enfrentar os desafios do dia a dia”, alerta o Dr. Plaggert.

A longo prazo, a falta de estímulos lúdicos pode comprometer o desempenho acadêmico e o desenvolvimento de habilidades essenciais para a vida adulta. Crianças que brincam pouco tendem a ter dificuldades em manter a atenção, em pensar de forma criativa e em resolver problemas de forma autônoma. “A brincadeira é um pilar essencial para o desenvolvimento integral da criança, e a sua falta pode prejudicar seu sucesso futuro”, enfatiza o neuropediatra.

Equilibrando tecnologia e brincadeiras

Embora seja inegável que a tecnologia faz parte da vida moderna, é crucial encontrar um equilíbrio entre o uso de telas e as brincadeiras tradicionais. “Os pais não precisam proibir completamente o uso de dispositivos eletrônicos, mas devem garantir que seus filhos tenham um tempo adequado para brincar e interagir com o mundo ao redor”, sugere o neuropediatra. Ele reforça que o tempo de tela deve ser monitorado e equilibrado com atividades criativas e interativas.

Para o médico, o mais importante é que os pais estejam presentes nesse processo. “Brincar com os filhos cria vínculos de confiança e ajuda a criança a se sentir amada e valorizada”, conclui. Brincadeiras em família não só promovem o desenvolvimento infantil, mas também fortalecem os laços afetivos, criando memórias duradouras.

Em um mundo cada vez mais digital, a mensagem é clara: “a brincadeira continua sendo uma ferramenta insubstituível para o desenvolvimento saudável das crianças. Ela não apenas estimula o aprendizado, mas também contribui para o bem-estar emocional e social, sendo essencial para uma infância feliz e equilibrada”, conclui o neuropediatra.